21.11.01

Borboleta sem asas
espera o tempo passar
Espera um dia poder voar


Pudera sem demora
acabar com quem dilacera,
quebrar o casulo na hora
Pulverizar a quimera de cera


E então, liberta como nunca fora,
liberta de si, de toda cela,
parar, repousar e encontrar
o que espera. Quem dera

Eu queria ter uma árvore
que tivesse flores amarelas
E que quando as flores viessem
todas as folhas tivessem caído
deixando o tronco bem marrom
de um marrom que só o tronco
de uma árvore com flores amarelas
pode ter

Eu queria ter uma árvore
que tivesse flores amarelas
plantada em frente a minha casa
Ou então que minha casa
fosse dentro de uma flor amarela
Mas eu sei, flores amarelas
não duram o ano inteiro
e minha casa ficaria aberta
às convulsões do tempo
Minha vida de cachorro


Tomo o elevador, vou até a rua, olho os carros. Dou satisfações do quanto estou bem.
Numa loja, pequenas coisas satisfazem meus olhos. No entanto, continuo ávida.
Deliro um instante, vejo meu rosto passando por mim.
Sinto-me crua, totalmente sem sabor. Passa a idéia de não voltar, o que importa? Passa.
Vi uma borboleta pousada numa flor amarela. Momento de poesia.
Depois, voou.
Estive estéril
e gorda, grávida de nada
Nada escrevi, nem de ti, nem de mim
Só pensei, em coisas talvez poéticas,
talvez sintéticas e frágeis demais
Porque como eu e você
não permaneceram como antes
Daí teus poemas, teus problemas,
os mesmos meus
Só que piores: falam de mim
tudo que não quero que exista em mim
só por trazerem você

No topo da paisagem que vislumbro agora, vejo horizontes com morros, todos conturbados, cheios de idas e vindas, de glórias e precipícios, que me formam, me sustentam e me acusam. Há pontos em que o medo se constrói sobre a coragem que resta, feita de injeções de esquecimento.
É um retrato antigo, vestido aos pouquinhos pelos poetas que viveram minhas idéias quando me vi em seus livros. É um retrato colorido em certas partes; em outras, melancolicamente preto-e-branco. Essas, talvez, eu considere mais delicadas.
Sei que já não sou Eva, ingenuamente crua; mas pretendo não ser Maria tão cedo.
Passei um tempo hibernando. Construi outro casulo pra tentar me recompor. Again.
Tenho medo de que você tenha se perdido de mim nesse tempo, mas não há outra solução, você precisa entender minha reclusão.
Agora parto em tua procura. Temerosa dos teus ares.
Espero uma recepção de amor, como o que hibernou comigo. Espero que eu não tenha sem querer rasgado pedaços e pedaços do teu sentimento. Rezo por isso.
Tomara que você tenha rodeado meu casulo, desejando ardentemente minha saída e nosso encontro.

Um dos momentos mais bonitos da minha vida foi quando me perdi na contemplação de uns olhos que não conseguia saber a cor. Não foi um momento de junção de nós dois. Mas me senti muito feliz por existir um outro e tão belo, que fazia com que eu me perdesse dentro de mim
Fumaça no ar, barulho no ar. Insensibilidade seria dizer que isto é sensível.
Imóvel.
Não chega.
Esperar. Sempre.
Esperei pra te encontrar, espero pro Vestibular, espero um ônibus que nunca vai passar.
Chegou um outro. Mas não o que eu quero, que para mim é insubstituível. Acho que se atrasa de propósito. Quem sabe chegou cedo demais, como você.
E eu tenho que esperar. Enclausurada. No começo, o claustro era o de uma larva que vai virar borboleta, só questão de tempo. Mas o tempo, de novo. Nem mesmo a borboleta percebeu a transformação. E lá dentro, tentando voar, dilacerou as asas, amputou as asas, e agora espera, pacientemente, um ônibus passar.

1989


Queria ter dezessete anos
Encanto me comove
Quando eu tiver dezessete anos
Que talvez signifiquem tão pouco
Mas são tanto, tanto


Viver dezessete anos
Tudo meu, todos eles, absolutos
Faz bem uns dezessete anos
Que teu mundo me espera
Talvez isso seja verdade
Sabe, já estou com saudade
De você e dos meus dezessete anos